O racismo no Brasil
Observe:
A palavra raça, apesar de ter origem biológica, não tem base
científica para definir, e muito menos classificar, seres humanos.
Apesar disso, a sociedade faz uso da palavra raça com sentido
político, isto é, para definir diferenças entre pessoas.
Para legitimar posições racistas, usa-se uma diferença biológica
(que é superficial, pois não há raças entre os humanos) ou
cultural (religião, modo de se vestir ou falar), justificando
privilégios e exclusão social. O acusador coloca-se como superior
em relação à vítima do racismo.
Ter amigos negros não faz de ninguém menos racista. Ser filho ou
parente de negros também não. O que impede uma pessoa de ser
racista é entender que o racismo é um mal cruel e excludente, que
relega as vítimas à pobreza material e à destruição de seus
valores e de sua cultura.
A relação do racista com a sua vítima está ligada, diretamente,
ao pensamento de dominação de um povo sobre outro, de um indivíduo
sobre o outro. A atitude racista é uma atitude de dominação,
característica dos processos de colonização que empreenderam
diferentes impérios ao longo da história da humanidade. A dominação
dos europeus contra africanos e americanos levou à escravização de
negros e índios que tão bem conhecemos no Brasil.
O preconceito racial segundo Sartre:
A condição do negro está ligada
ao racismo e à miséria. Considerando a população brasileira em
geral, pode-se afirmar que raros são os casos nos quais os negros
superam condição de pobreza ou mesmo de miséria e recebem
notoriedade social.
A miséria causada pelo racismo e
pelas políticas de Estado pós-libertação dos escravos e a
despreocupação das autoridades geraram um contingente de excluídos
ou marginaliza dos, que são reconhecidos pela mesma cor de pele,
cabelo, lábios e cultura de raízes africanas – os negros.
A falta do mínimo necessário para
a vida gerou e gera duas orientações: a revolta e a acomodação. A
revolta pode ser política, isto é, negros e negras se encontram
para discutir o que lhes faz sofrer e cobrar das autoridades a
igualdade. A acomodação pode ser entendida como uma alienação.
Muitos negros e negras simplesmente aceitam o papel que as elites
lhes impuseram durante séculos – a de que eram trabalhadores
braçais em situação precária. Por outro lado, a alienação pode
gerar a vitimização: o indivíduo se vê sempre perseguido e
incapaz de agir, o que resulta em baixa autoestima. Em consequência,
os negros valorizam outras culturas, como a da hegemonia branca
europeia.
Para Sartre, o negro precisa
encontrar a sua “negritude”, que é a maneira dialética, ou a
negação da injustiça, causada pelo capitalismo. A condição negra
de miséria, de humilhação e exclusão social, foi gerada pelo
capitalismo, em processos de escravização de um povo sobre outro
povo. Do ponto de vista cultural, diferentemente do proletário
europeu, formado pelas fábricas, o negro teve um espaço para
desenvolver sua cultura, que só podia ser uma cultura de
resistência. Cada vez que um negro coloca uma roupa que expressa sua
identidade, compõe uma música que fala de sua vida, não tenta
moldar o seu corpo para ser igual aos outros, ele produz a
“negritude”, a resistência cultural dentro do capitalismo racial
e cristão. A negação do ato colonizador. O capitalismo colocou o
burguês e o trabalhador em oposição por meio de uma situação de
exploração. Mas o capitalismo também colocou o branco europeu em
oposição ao negro escravo e ao negro pós-libertação, o que
também resultou em formas de exploração.
O capitalista oprime o trabalhador
enquanto, em certa medida, o trabalhador branco oprime o negro. Por
isso, o negro deve assumir a consciência de que sua raça é
explorada por uma questão social de dominação do homem branco e
não por sua natureza biológica. Em Sartre, há uma diferença entre
o trabalhador branco e o trabalhador negro, pois apesar de ambos
sofrerem as dificuldades da pobreza, o negro sofre como negro, isto
é, além da pobreza, ele encontra a discriminação junto àqueles
que também são pobres e oprimidos, e até os trabalhadores brancos
discriminam o trabalhador negro.
O que é preciso fazer? É preciso
que cada um tome consciência de sua condição; que o trabalhador
tome consciência de sua exploração e perceba que os problemas
advêm de sua posição no mundo capitalista; que o negro identifique
sua condição de submetido pelo racismo. Sob a inspiração de
Sartre, pode-se pensar que a consciência de que é submetido ao
racismo deve favorecer o entendimento por parte dos negros de que é
preciso assumir-se como negro, sem negar origens africanas e história
cultural, mas negando a condição de exclusão e inferioridade de
que foram vítimas. Assim, o negro deve orgulhar-se de sua negritude,
atribuindo significados positivos ao fato de ser negro.
Sartre inspira um pensamento de
valorização do negro. Um olhar negro sobre o mundo. Uma compreensão
de que o negro não pode ser conjugado como o mal. A nossa cultura
associa as palavras negro, negra e preto ou preta a ideias
pejorativas. Por exemplo, o que significam as expressões “mercado
negro”, “o lado negro”, “magia negra”, “a coisa está
preta”?
A ideia de negritude entendida como
valorização do negro e crítica à visão negativa do mesmo impõe
outra opção à ordem da cultura excludente. Sendo chamados de
negros ou afrodescendentes, essas pessoas se encontraram pela
negritude, que significa valorização do negro, da história dos
povos africanos, da cultura negra e de uma nova visão sobre os
negros, bem como sobre a importância de superação da exclusão
social a que foram submetidos. A negritude seria o desenvolvimento da
cultura negra após a colonização. Nela, estaria uma inversão em
oposição ao sistema eurocêntrico capitalista e branco. A negritude
revela o racismo.
A particularidade do racismo no brasil
“Para oprimir e submeter, especialmente, os negros, o racismo no
Brasil não necessitou de regrasformais de discriminação, de
desigualdade e de preconceito racial. O racismo como ideologia
emprega e se alimenta de práticas sutis, de nuances e de
representações que não precisam de um sistema rígido e
formalizado de discriminação. Ao contrário das experiências
norte-americana ou sul-africana que estabeleceram regras claras de
ascendência mínima para definir seus grupos sociais, nas quais, por
exemplo, uma gota de sangue negro era mais que suficiente para
macular a suposta pureza racial dos brancos. As formas de
classificação racial e a eficácia do racismo no Brasil nutriram-se
sempre das formas mais maleáveis, mais flexíveis para atingir suas
vítimas, porém essas sutilezas não deixam de ser igualmente
perversas e nocivas para os indivíduos e coletividades atingidos.
De qualquer forma, essa sutileza, que informa o tipo de racismo
presente no Brasil, segue de mãos dadas com as premissas de
ideológica “democracia racial” que pretende afirmar e defender a
inexistência do racismo, precisamente porque no país não há
posições ou locais sociais que negros não possam ocupar. Não há
cargo, posto de trabalho, lugar, emprego, profissão etc. em que os
negros não possam competir. Todavia, basta uma breve observação na
paisagem social para se verificar que a democracia racial ainda não
chegou para os negros. Eles são minoria nas posições de maior
reconhecimento, nas profissões melhor remuneradas, nos segmentos de
melhor renda etc. Especialmente a mulher negra, que ocupa uma posição
social extremamente desvantajosa quando comparada com o conjunto da
população branca do país. Frequentemente ela exerce atividades de
menor reconhecimento social, menor retorno salarial e de menor
exigência de qualificação.
Para transformar essa situação, tão comum na paisagem social do
Brasil, torna-se necessário a adoção de amplas políticas públicas
que busquem minimizar as brutais desigualdades de renda, escolarida
de, emprego, moradia, saúde etc. que afetam mais diretamente os
negros. O que sugere uma substantiva transformação do desenho e da
execução das políticas formuladas pelo Estado. Transformação que
garanta efetivamente à maioria da população, especialmente aquela
afrodescendente, o acesso aos elementares direitos de cidadania. Por
exemplo, a ampliação das oportunidades de ensino deve vir
acompanhada de mecanismos de manutenção dos estudantes nas
instituições de ensino.Pelo que se disse, reconhecer a existência
e a eficácia da forma de racismo praticada no Brasil significa lutar
para alcançar para a maioria da população brasileira, e para a
população afrodescendente, em especial, o reconhecimento social de
serem sujeitos portadores de direitos e igual dignidade humana.
Reconhecimento que o racismo e a tão decantada, mas jamais
praticada, democracia racial brasileira, insistem, sobretudo, em
negar aos negros brasileiros”.
SIlVA, Jair Batista da. O que é racismo no Brasil. Revista Aulas
(texto no prelo)
Atividade
Observações:
- Não se esqueça de colocar Nome, Número e série;
- Antes de enviar, coloque o código solicitado;
- Observe o término do tempo programado para a atividade.
Com base nas leituras e discussões, responda:
1- Preto ou negro? Qual termo é correto para se referir ao afrodescendente? Aborde na sua resposta o que é racismo
2- Como Sartre compreende o preconceito racial nas sociedades capitalistas?
2- Como Sartre compreende o preconceito racial nas sociedades capitalistas?
3-A análise dos dados estatísticos do IBGE nos permite concluir
que...
4- Compare o preconceito racial praticado no Brasil com o praticado
nos Estados Unidos.
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